segunda-feira, 1 de julho de 2013

O Alien de Aço


Nenhum outro herói ecoa tão violentamente no imaginário popular quanto o Super-Homem. Surgido nos quadrinhos no final da década de 1930, já está presente desde os anos 40 em séries animadas e adaptações para a TV e mais tarde, encarnado pelo icônico Christopher Reeve nos cinemas. O Super-Homem é a síntese de todos os outros heróis, desde o uniforme azulão com a famigerada cueca por cima das calças, a capa esvoaçante e o penteado lustrado com cachinho na testa, até a missão mais básica: proteger a humanidade a todo custo. Para além disso, o homem de aço realiza nossa vontade de voar, nossa aspiração pela infalibilidade; faz o “homem comum” virar um quase-deus.

Em Homem de Aço (Man of Steel, 2013) somos convidados a conhecer um outro aspecto do famoso herói. Credenciado pelo estilo do produtor Christopher Nolan, que tem o realismo como arma principal (já discutimos esse cara AQUI) e pela direção criativa e ousada de Zack Snyder (de 300 e Watchmen), a união das forças parece funcionar. Dessa vez o azulão do uniforme dá lugar a tons mais escuros, não tem cueca vermelha e nem cabeleira esquisita. O Super de Henry Cavill é menos plástico que as outras versões, chora eventualmente, perde a compostura, dá porrada.  Além da mudança na ‘linha editorial’ do personagem, é crédito também do próprio ator essa postura mais visceral, mais humana – que honra o posto que pertencerá para sempre, não adianta fazer bico, ao Reeve.

Outro ponto interessante é a estrutura narrativa não-linear, algo que geralmente resulta em quebra de ritmo, mas aqui adotada pelo roteiro de David Goyer (o mesmo da trilogia do Cavaleiro das Trevas), funciona muito bem. Há o primórdio de tudo em Krypton, claro, mas a história vai recorrendo a flashbacks pontuados ao longo do filme que revisitam a infância e adolescência de Clark no Kansas, oxigenando a trama principal. Diane Lane e Kevin Costner como os pais humanos de Clark fazendo a valsa com Russell Crowe e Ayelet Zurer, de Krypton.

Chama atenção ainda o fato de que, a trama essencialmente urbana de Super-Homem aqui ganha contornos de quase ficção científica e invasão alienígena com o terrível general Zod (Michael Shannon é o cara) e seu plano de dominação do planeta. Mais da metade do filme se passa fora das ruas de novayorcóides de Metrópolis. Uma cena onde Lois Lane (Amy Adams, linda) é gentilmente convidada a embarcar numa nave alien me fez, aliás, lembrar certa passagem de Marte-Ataca, tsc.


Finalmente, o excesso de cenas de ação. O Super-Homem é megalomania pura (estamos falando do sujeito que mudou o curso de rotação da Terra, vá lá) e aqui aparentemente a produção teve medo de incorrer no marasmo do filme de Bryan Singer e pesaram a mão nas sequencias de pancadaria. Algumas cenas de luta realmente impressionam e os efeitos são cada vez melhores. Os movimentos de Faora-Ul (Antje Traue) estabelecem a aproximação cada vez mais recorrente da linguagem dos games – ela inclusive lembra muito uma personagem de Detona Ralph. Mas precisava tanto? Acho que não.

E aqui outro problema que talvez seja mais meu que do filme, vejamos se você concorda: falta emoção. Os sentimentos aparecem no roteiro, mas raramente saem da tela. E esse é um ponto fraco crucial, já que num filme de herói, proporcionar empolgação à plateia é tarefa básica.

Seja como for, é um filme correto, bem feito, muito superior a qualquer coisa produzida sobre o Super-Homem nos últimos anos e que já tem sequencia garantida. Sempre com a melhor das expectativas, vamos aguardar o que há de vir.

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