Nenhum outro herói ecoa tão
violentamente no imaginário popular quanto o Super-Homem. Surgido nos
quadrinhos no final da década de 1930, já está presente desde os anos 40 em séries
animadas e adaptações para a TV e mais tarde, encarnado pelo icônico Christopher
Reeve nos cinemas. O Super-Homem é a síntese de todos os outros heróis, desde o
uniforme azulão com a famigerada cueca por cima das calças, a capa esvoaçante e
o penteado lustrado com cachinho na testa, até a missão mais básica: proteger a
humanidade a todo custo. Para além disso, o homem de aço realiza nossa vontade
de voar, nossa aspiração pela infalibilidade; faz o “homem comum” virar um
quase-deus.
Em Homem de Aço (Man of Steel,
2013) somos convidados a conhecer um outro aspecto do famoso herói. Credenciado
pelo estilo do produtor Christopher
Nolan, que tem o realismo como arma principal (já discutimos esse cara
AQUI) e pela direção criativa e ousada de Zack Snyder (de 300 e Watchmen), a união
das forças parece funcionar. Dessa vez o azulão do uniforme dá lugar a tons
mais escuros, não tem cueca vermelha e nem cabeleira esquisita. O Super de Henry Cavill é menos plástico que as
outras versões, chora eventualmente, perde a compostura, dá porrada. Além da mudança na ‘linha editorial’ do
personagem, é crédito também do próprio ator essa postura mais visceral, mais
humana – que honra o posto que pertencerá para sempre, não adianta fazer bico,
ao Reeve.
Outro ponto interessante é a estrutura narrativa não-linear, algo que geralmente resulta em quebra de ritmo, mas aqui adotada pelo roteiro de David Goyer (o
mesmo da trilogia do Cavaleiro das Trevas), funciona muito bem. Há o primórdio de tudo em Krypton, claro,
mas a história vai recorrendo a flashbacks
pontuados ao longo do filme que revisitam a infância e adolescência de Clark no
Kansas, oxigenando a trama principal. Diane
Lane e Kevin Costner como os
pais humanos de Clark fazendo a valsa com Russell
Crowe e Ayelet Zurer, de
Krypton.
Chama atenção ainda o fato de
que, a trama essencialmente urbana de Super-Homem aqui ganha contornos de quase
ficção científica e invasão alienígena com o terrível general Zod (Michael Shannon é o cara) e seu plano
de dominação do planeta. Mais da metade do filme se passa fora das ruas de novayorcóides de Metrópolis. Uma cena
onde Lois Lane (Amy Adams, linda) é
gentilmente convidada a embarcar numa nave alien me fez, aliás, lembrar certa
passagem de Marte-Ataca, tsc.
Finalmente, o excesso de cenas de
ação. O Super-Homem é megalomania pura (estamos falando do sujeito que mudou o
curso de rotação da Terra, vá lá) e aqui aparentemente a produção teve medo de
incorrer no marasmo do filme de Bryan Singer e pesaram a mão nas sequencias de
pancadaria. Algumas cenas de luta realmente impressionam e os efeitos são cada
vez melhores. Os movimentos de Faora-Ul (Antje
Traue) estabelecem a aproximação cada vez mais recorrente da linguagem dos
games – ela inclusive lembra muito uma personagem de Detona Ralph. Mas precisava
tanto? Acho que não.
E aqui outro problema que talvez
seja mais meu que do filme, vejamos se você concorda: falta emoção. Os
sentimentos aparecem no roteiro, mas raramente saem da tela. E esse é um ponto
fraco crucial, já que num filme de herói, proporcionar empolgação à plateia é tarefa
básica.
Seja como for, é um filme
correto, bem feito, muito superior a qualquer coisa produzida sobre o
Super-Homem nos últimos anos e que já tem sequencia garantida. Sempre com a
melhor das expectativas, vamos aguardar o que há de vir.
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