domingo, 26 de agosto de 2012

Curso: Introdução à Linguagem Cinematográfica



Na terça-feira (28) começa o nosso curso de Introdução à Linguagem Cinematográfica. Essa é a terceira vez que ministro pelo SESC uma oficina/curso totalmente voltado a estudar a maravilhosa engenharia da sétima arte. E a oportunidade é incrível. São pessoas com aspirações e opiniões diferentes, unidas ali pela pura e simples vontade de debater, discutir, aprender mais sobre a arte mais linda de todas: o cinema.

Em maio de 2011, a oficina “Nouvelle Vague - Análise de Filmes” analisou a relação tão criativa quanto abrasiva mantida por François Truffaut e Jean-Luc Godard. Nós procuramos compreender a importância dos filmes e de seus criadores, navegamos pelos respingos de Nouvelle Vague pelo resto do mundo, inclusive no Brasil.

Já no começo do ano, a oficina de “Análise de Filmes” reuniu uma turma sensacional. Tinha gente de todas as idades, de estudantes a professores, de psicólogos a cineastas começando a carreira. E foi uma experiência muito gratificante se reunir com esses camaradas todo dia, bem cedo da manhã, pra falar de cinema até a hora do almoço.

Para essa nova edição, os horários foram reajustados - agora é à noite - pra que fosse acessível a mais gente. A responsabilidade aumenta, mas a maior duração do curso (uma semana inteirinha), vai nos permitir mais divagações, mais trechos de filmes, mais papo sem muito medo de não cumprir o cronograma. Nos vemos lá! 

Informações:

(098) 3216 3830
galeriadeartesescma@gmail.com


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Qual é a tua, Christopher Nolan?


O trabalho do diretor, roteirista e produtor Christopher Nolan divide opiniões. De um lado, os fãs entusiastas que o arremessam à categoria de gênio inconteste do cinema. De outro, aqueles que enxergam artimanhas manipuladoras em Nolan e defendem que seus filmes não passam de lorota emplumada. Seja como for, longe de prever o prazo de validade dos filmes, cabe a nós o desafio de procurar compreender seu peso agora, no frescor dos lançamentos. Afinal de contas, o que faz do Sr. Nolan um diretor tão festejado?

Levando em consideração os intrépidos ‘blockbusters com cérebro’ – um termo cunhado pelos fãs do realizador – é possível observar uma estrutura comum bastante simples. Na primeira hora somos bombardeados com esse arsenal de informações, respostas, dramas e conflitos que nos fazem ter a sensação de ter tomado três tequilas + chacoalhada na cabeça. É uma espécie de Ilusão de Complexidade que serve pra que a história ganhe substrato e as informações que realmente importam estejam todas ali, camufladas.

O desfecho investe nos set pieces (aquelas cenas bem marcantes) e alguns diálogos expositivos pra deixar as coisas menos obscuras e nos oferecer o confortável Complexo de Sherlock Holmes “Sou demais! Entendi tudo!”. E aí não dá outra: o desfecho impressiona. Se vistos mais de uma vez, no entanto, a maneira afetada com que Nolan apresenta suas tramas pode ser frustrante pela sensação de concha vazia “Poxa, não é tão complexo assim. Na verdade é até bem simples. (...) Pfff, então é só isso?!”.

A despeito disso, uma marca que se tornou característica de Nolan – e que ele adota com sofreguidão quase religiosa na trilogia Batman - é o Apego ao Realismo. Pragmático desde o início da carreira, o diretor procura empregar respostas aos mínimos detalhes, transformando a existência de um homem numa roupa de morcego em algo o mais plausível possível. Assim, o boa-praça Lucius Fox (Freeman) atende a esse propósito explicando todo e qualquer artefato que o vigilante mascarado venha a utilizar (e a gente compra tudo, inclusive com muito amor).

Para ficar em alguns exemplos, a atroz bate-motoca que surge no segundo filme, é um modelo meticulosamente projetado e que funciona de fato. Uma Lamborghini é parcialmente destruída, o Hospital de Gothan (um prédio aleatório) é de fato implodido e aquele caminhão dá mesmo uma cambalhota no meio da rua. Tudo isso, a partir do segundo filme, captado com as poderosas câmeras IMAX, que fornecem uma qualidade muito superior de imagem e som. Essa medida de utilizar o mínimo de computação gráfica visível (aquela mais aparente, como a bate-nave (!) nesse último filme) não é outra coisa senão uma estratégia para conferir mais verdade à narrativa. Funciona.


Essa característica corresponde ao cuidado extremo com a Identidade Visual dos filmes. Para a trilogia do Cavaleiro das Trevas, foram adotadas paletas de cores bastante específicas. Observe a tonalidade amarronzada, quase sépia, que toma conta de Batman Begins. Em Dark Knight, a coloração já é mais azulada. Finalmente em Dark Knight Rises os tons cinzentos estão presentes desde o logo da Warner, abrindo o filme. Isso pode servir a interpretações condizentes à história sim, mas servem para criar um gratificante banquete aos olhos – o que é lindo, não? Somem-se a isto as impressionantes sequências com a arquitetura sinuosa em A Origem ou a icônica imagem do homem-morcego sendo fisgado por aviões em Gothan e temos aí filmes marcantes e visualmente ambiciosos.

Importante também é o criterioso cuidado de Nolan com a Direção de Atores. É claro que contar com uma equipe infernalmente talentosa ajuda bastante. Mas as instruções pontuais do diretor são fundamentais para extrair performances notáveis do elenco. Afinal, é ele quem detém a visão holística do projeto do qual os atores correspondem apenas a uma parte. Dessa forma, os monstruosos diCaprio, Bale, Ledger, Oldman, Caine... podem oferecer o máximo de talento em suas caracterizações.

E a cereja do bolo, bons amigos, é a Trilha Sonora orquestrada por Hans Zimmer. Impactante mas jamais inconveniente, a música de Zimmer valoriza as sequencias, empolga e até diverte. Desde o ‘booooooommmm’ de A Origem com a interessante mixagem de “Non, je ne regrette rien”, até os surtos graves que seguem as traquinagens do homem-morcego.

No começo do mês, Christopher Nolan deixou suas marcas na Calçada da Fama, no famoso Teatro Chinês de Hollywood. Ele agora decidiu abandonar os filmes de herói e voltar sua carreira a projetos originais. Apesar das críticas - algumas contundentes, outras que apenas implicam com o status hype do diretor – ele segue se esforçando para que as marcas não sejam apenas de cimento na Calçada da Fama, mas definitivas na memória do cinema. A gente agradece.