O trabalho do diretor, roteirista
e produtor Christopher Nolan divide opiniões. De um lado, os fãs entusiastas que
o arremessam à categoria de gênio inconteste do cinema. De outro, aqueles que
enxergam artimanhas manipuladoras em Nolan e defendem que seus filmes não
passam de lorota emplumada. Seja como for, longe de prever o prazo de validade
dos filmes, cabe a nós o desafio de procurar compreender seu peso agora, no
frescor dos lançamentos. Afinal de contas, o que faz do Sr. Nolan um diretor tão
festejado?
Levando em consideração os
intrépidos ‘blockbusters com cérebro’
– um termo cunhado pelos fãs do realizador – é possível observar uma estrutura
comum bastante simples. Na primeira hora somos bombardeados com esse arsenal de
informações, respostas, dramas e conflitos que nos fazem ter a sensação de ter
tomado três tequilas + chacoalhada na cabeça. É uma espécie de Ilusão de Complexidade que serve pra
que a história ganhe substrato e as informações que realmente importam estejam
todas ali, camufladas.
O desfecho investe nos set pieces (aquelas cenas bem marcantes)
e alguns diálogos expositivos pra deixar as coisas menos obscuras e nos
oferecer o confortável Complexo de
Sherlock Holmes “Sou demais! Entendi tudo!”. E aí não dá outra: o desfecho
impressiona. Se vistos mais de uma vez, no entanto, a maneira afetada com que
Nolan apresenta suas tramas pode ser frustrante pela sensação de concha vazia “Poxa,
não é tão complexo assim. Na verdade é até bem simples. (...) Pfff, então é só
isso?!”.
A despeito disso, uma marca que
se tornou característica de Nolan – e que ele adota com sofreguidão quase religiosa
na trilogia Batman - é o Apego ao Realismo.
Pragmático desde o início da carreira, o diretor procura empregar respostas aos
mínimos detalhes, transformando a existência de um homem numa roupa de morcego em algo o mais plausível possível. Assim, o boa-praça Lucius Fox (Freeman) atende
a esse propósito explicando todo e qualquer artefato que o vigilante mascarado venha
a utilizar (e a gente compra tudo, inclusive com muito amor).
Para ficar em alguns exemplos, a
atroz bate-motoca que surge no segundo filme, é um modelo meticulosamente
projetado e que funciona de fato. Uma Lamborghini é parcialmente destruída, o
Hospital de Gothan (um prédio aleatório) é de fato implodido e aquele caminhão
dá mesmo uma cambalhota no meio da rua. Tudo isso, a partir do segundo filme,
captado com as poderosas câmeras IMAX, que fornecem uma qualidade muito
superior de imagem e som. Essa medida de utilizar o mínimo de computação
gráfica visível (aquela mais aparente, como a bate-nave (!) nesse último filme)
não é outra coisa senão uma estratégia para conferir mais verdade à narrativa.
Funciona.
Essa característica corresponde
ao cuidado extremo com a Identidade Visual
dos filmes. Para a trilogia do Cavaleiro das Trevas, foram adotadas paletas de
cores bastante específicas. Observe a tonalidade amarronzada, quase sépia, que
toma conta de Batman Begins. Em Dark Knight, a coloração já é mais azulada.
Finalmente em Dark Knight Rises os tons cinzentos estão presentes desde o logo
da Warner, abrindo o filme. Isso pode servir a interpretações condizentes à
história sim, mas servem para criar um gratificante banquete aos olhos – o que
é lindo, não? Somem-se a isto as impressionantes sequências com a arquitetura
sinuosa em A Origem ou a icônica imagem do homem-morcego sendo fisgado por aviões
em Gothan e temos aí filmes marcantes e visualmente ambiciosos.
Importante também é o criterioso cuidado
de Nolan com a Direção de Atores. É
claro que contar com uma equipe infernalmente talentosa ajuda bastante. Mas as
instruções pontuais do diretor são fundamentais para extrair performances
notáveis do elenco. Afinal, é ele quem detém a visão holística do projeto do
qual os atores correspondem apenas a uma parte. Dessa forma, os monstruosos diCaprio,
Bale, Ledger, Oldman, Caine... podem oferecer o máximo de talento em suas caracterizações.
E a cereja do bolo, bons amigos,
é a Trilha Sonora orquestrada por
Hans Zimmer. Impactante mas jamais inconveniente, a música de Zimmer valoriza
as sequencias, empolga e até diverte. Desde o ‘booooooommmm’ de A Origem com a interessante
mixagem de “Non, je ne regrette rien”, até os surtos graves que seguem as
traquinagens do homem-morcego.
No começo do mês, Christopher Nolan
deixou suas marcas na Calçada da Fama, no famoso Teatro Chinês de Hollywood. Ele
agora decidiu abandonar os filmes de herói e voltar sua carreira a projetos
originais. Apesar das críticas - algumas contundentes, outras que apenas
implicam com o status hype do diretor – ele segue se esforçando para que as
marcas não sejam apenas de cimento na Calçada da Fama, mas definitivas na
memória do cinema. A gente agradece.
de onde voce tirou que Nolan divide tanta opinião? 90% das pessoas amam seus filmes. Que divisão é essa?
ResponderExcluirPopularidade não é sinônimo de qualidade, nobre amigo anônimo. Sugiro breve pesquisa nesta amada internet. Um abraço, Davi Coelho.
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