A comicidade dos travestis sempre soube ser bem explorada pelo cinemão. Mas há também exemplos de filmes em que as ‘mulheres aprisionadas em corpo de homem’ serviram pra arrancar algumas lagriminhas. Sem levantar bandeira alguma, vamos lá ao TOP5 de travas-escândalo, beijos.
5 - Ninguém É Perfeito (Flawless, 1999)
Não há nada demais no argumento que sustenta Ninguém é Perfeito: dois personagens extremamente opostos precisam aprender a lidar com suas diferenças e desse convívio, extraem belas lições sobre aceitação e tolerância. Seria um filme ignorável, não fosse a impecável construção dos personagens, por dois dos mais prestigiados atores do cinema americano, Philip Seymour Hoffman e Robert De Niro. Hoffman faz a travesti Rusty Zimmerman, que enfrenta problemas de depressão e De Niro, um policial aposentado, super conservador. É verdade que o diretor Joel Schumacher já cometeu tantos erros quanto acertos, mas ainda que seja apenas pelas performances inspiradas dos dois gênios-atores, esse é um filme que vale muito a pena.
4 - The Rocky Horror Picture Show (The Rocky Horror Picture Show, 1975)
O carro de Susan Sarandon e Barry Bostwick enguiça desastrosamente em meio a uma remota rodovia. Acuados pela torrente tempestade, os jovens buscam abrigo num lúgubre castelo açoitado pelos relâmpagos. São atendidos por um mordomo corcunda de feições nosferáticas... e ali começa The Rocky Horror Picture Show, um dos ícones cult mais adorados de todos os tempos. Parodiando filmes de terror e ficção científica, a história fala de um travesti chamado Frank-N-Furter (Tim Curry) que tem o hedonismo como principal bandeira. Em meio a muito glam rock, clássicos figurinos e muitas excentricidades e ambiguidades, os jovens perdidos na estrada serão convidados ao irresistível banquete do prazer por ele mesmo. Melhor viagem.
3 - Tudo Sobre Minha Mãe (Todo sobre mi Madre, 1999)
O Almodóvar é um dos caras que melhor sabe trabalhar com excessos. São cores demais, falas demais, sentimento e graça - tudo em larga escala. Ao longo da carreira, ele foi se tornando mais comedido, usando um pouco mais de sobriedade para seus ótimos ingredientes: traição, vingança, flashbacks, autoreferências, louvação ao cinema e Penélope Cruz sendo explorada ao máximo. Eu prefiro o espalhafato de antigamente, as revelações bombásticas, os travestis e a linguagem escrachada, sem escrúpulos. Curiosamente, em Tudo Sobre Minha Mãe há uma junção da carga dramática mais refinada, com a característica falta de pudores que arranca risadas sem esforço algum. E isso, graças à adorável travesti Agrado (Antonia San Juan) “Chamam-me de Agrado porque a vida inteira, só pretendi tornar a vida dos outros agradável”.
2 - Transamérica (Transamerica, 2005)
Transamérica é a história de Bree Osbourne, um travesti que depois de várias concessões e sacrifícios, está prestes a finalmente realizar sua cirurgia de mudança de sexo. É então que ela descobre ter um filho adolescente em Nova York, que está preso por envolvimento com drogas. Ir em busca do filho (que nunca conheceu o pai) demanda uma aflição em esconder/contar a verdade sobre a condição de sua sexualidade e compromete a realização da cirurgia, uma vez que esta implica total entrega e equilíbrio emocional. O maior mérito de Transamérica talvez seja transmitir com tanta força os sentimentos e as causas de uma protagonista pouco comum. É tocante entender, por exemplo, a importância que a cirurgia representa a ela e quão impactante é saber que há um filho precisando de sua ajuda – uma jornada assaz solitária, afinal. Méritos do diretor estreante Duncan Tucker e do trabalho incrível de Felicity Huffman.
1 - Pink Flamingos (Pink Flamingos, 1972)
Os personagens de Pink Flamingos estão comprometidos com uma só causa: se tornarem as pessoas mais bizarras do mundo. Divine, a travesti protagonista, reinava soberana no posto de pessoa mais obscena do mundo, até ter sua majestade desafiada por um casal convencido a cometer as maiores atrocidades para tomar seu título. E aqui não há limites para o grotesco: canibalismo, incesto, sacrifício de animais, sexo explícito, um ânus dançante (?) e até a ingestão de fezes de cachorro (de verdade). O diretor John Waters, mestre do cinema underground, adotou a pura fetichização do mau gosto nesse filme completamente inacreditável - que tem um posto ilibado na galeria dos filmes mais controvertidos já feitos.
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Hors Concour dessa edição: Priscilla, A Rainha do Deserto, de 1994.
E menção honrosa a Tony Curtis e Jack Lemmon que se vestiram de mulher no inesquecível Quanto Mais Quente Melhor (1959). Mesma situação de Dustin Hoffman em Tootsie, de 1982.
Valeu Amandinha pelos snapshots de The Rocky Horror Picture Show, sua linda.
E té mais ;)