Dá pra fazer um leve exercício de memória e lembrar que nenhum filme do cinema recente dividiu tanto opiniões quanto esse reboot da série Homem-Aranha. Ame-o ou Deixe-o, há quem lance a sentença como teia. Entre mortos e feridos, a empreitada do diretor Marc Webb tem coragem, vontade... mas trupica nos detalhes. Quais as maiores desvantagens e vacilos do novo cabeça-de-teia?
1) Veio depois da trilogia do Sam Raimi
Sim, amigos. Com um parâmetro de comparação tão violento, o novo Aranha perde a força da novidade e precisa de muito mais esforço para conquistar seu lugar. A trilogia do Sam Raimi (embora a gente ignore solenemente o terceiro filme) é de uma força imensa. Foi um fenômeno sem precedentes na história da telona e tatuou em nossas memórias a figura de Tobey Maguire como Peter Parker - um personagem, até então, sem rosto. Some-se a isso a pouca distância de tempo entre as produções e temos aí a Síndrome do Substituto Indesejado. Imagine um novo Tony Stark que não seja Robert Downey Jr., um Harry Potter que não seja Radcliffe ou um Batman que não pareça Kermit, o Sapo.
2) O sacrifício vão de Ben Parker
Um dos momentos mais íngremes da ópera soturna que é a vida
pessoal de Peter Parker, a morte do Tio Ben é o destino arrancando dele, pela
segunda vez, seu referencial de figura paterna. A carga de culpa aterradora e o
anseio de vingança que nascem no garoto Parker a partir daí são definitivos
para que ele se reconheça enquanto herói e vista o manto dos grandes poderes e
grandes responsabilidades. No filme de Marc Webb, no entanto, a morte de Ben
Parker (Martin Sheen) acontece de maneira gratuita e os efeitos ora
devastadores desta perda, são pálidos, quase imperceptíveis. Se isso desperdiça
vínculos entre o personagem e a plateia, a relação com a Tia May de Sally
Fields não fica muito atrás.
3) Ausência de conflito romântico
Veja só: Gwen Stacy é uma pequena gênia que ama Parker genuinamente
e jamais complica a vida do herói sendo utilizada como isca por duendes
voadores ou cientistas de tentáculos. Em vez disso ela reúne seus dotes em
favor da causa e ajuda pontualmente, em vez de atrapalhar. Ótimo? Não, péssimo.
É só lembrar de Mary Jane, o amor platônico de um nerd loser. É uma garota que
sofre abusos do pai alcoólatra, é idealista, sonha em ser atriz (mas vira
garçonete), descobre amar Parker (mas eventualmente está namorando outro cara)
e é alvo dos vilões que querem a cabeça de Spidey numa bandeja de prata. Sentiu
a diferença? O cinema bebe na fonte do amor idealizado - que aparecia nas
poesias toscamente declamadas e na dor de cotovelo do antigo Pete.
Pra onde vai a nova jornada?
O Novo Aranha é um filme sobre um adolescente numa fantasia,
aos poucos se reconhecendo enquanto herói. Ao vestir-se de Homem-Aranha, Peter
Parker continua sendo Peter Parker: franzino, falível, que leva tiro, se
machuca gravemente, faz piada, tem espírito de aventura. O Homem-Aranha de Andrew Garfield usa
mochila e tira a máscara toda hora... a intenção de aproximar herói e alter-ego
fica clara. Só não descamba no conceito do Kick-Ass pela famigerada picada da
aranha radioativa. Essa talvez seja a diferença-base em relação aos filmes
anteriores. E aí, lá vai: nada de mocinhas gostosas e indefesas gritando por
socorro, nada de redator surtado publicando manchetes levianas, nada de entrega
de pizza desastrada. Tudo que é caricatura fica pra trás. As cores aqui são
mais sóbrias, o tom é mais realista, a violência é mais ameaçadora.
Similaridades com o tom empregado por Christopher Nolan no Novo Batman que aqui,
infelizmente, não chegam perto do efeito.
[Esse post é um oferecimento de Apontador Cego, o blog de ilustrações de cinema mais legal que existe :D].
Discordo de você Coelho, acho que a morte do Ben Parker tem o impacto necessário pra esse novo Peter, afinal o tio morreu por culpa dele, morre porque tá na rua procurando ele, morre porque o Peter não deu atenção ao lema que o pai dele tinha e o tio acabara de lhe contar "se você pode fazer algo bom por alguém, tem a obrigação moral de fazê-lo", e diferente do que muito acreditam o tio Ben nos quadrinhos nunca disse "Com grandes poderes vem grandes responsabilidades" o Homem-Aranha é quem diz isso por causa da morte do tio. Concordo que a relação com a tia May tá superficial, mas não a acho fundamental pro filme. Quanto a falta de conflito romântico essa é a melhor parte do filme, ainda mais se tratando do início da carreira do Aranha, não tinha mocinha chata pra ser resgatada, não tinha perda de tempo com beijinhos e pataquadas românticas, dá ao fã o que ele quer mais Peter e mais Homem-Aranha e menos Romeu e Julieta. e sobre o tom realista, eu não gosto do tom do Nolan pro Batman, acho chato, bem feito, mas chato o suficiente pra só me fazer querer ver uma vez cada filme e nisso o Espetacular Homem-Aranha não cai, apesar de sóbrio ele não se leva a sério demais, o trabalho do diretor admite que está num universo onde coisas incríveis são possíveis mesmo que conflite com a realidade de quem assiste, onde aranhas geneticamente modificadas não dão super-poderes a ninguém, acho mais honesto do que um diretor que veste seu herói de morcego e diz que ele não pode ter um ajudante mirim porque seria irreal, como se estivesse filmando uma história baseada em fatos reais e não em ficção e quadrinhos.
ResponderExcluirAlgumas coisas eu concordo. Mas por exemplo, no tópico "Ausência de conflito romântico". eu já acho o contrário, gostei da abordagem do filme. E além do mais os filmes do Raimi que foram bons tbm, basicamente era a moça sendo sequestrada e o aranha tentando salva-la(Em todos os 3), assim de certa forma satura. E tenho certeza que essa nova abordagem nesse primeiro filme, é só o começo pro que vai vir e se resolver no segundo filme. Mesmo que pouco, já criamos um laço com Gwen e Peter como casal se gostando e tudo mais. Mas pode ter uma reviravolta no segundo, que vai tornar melhor, muito melhor que a fórmula do Raimi.
ResponderExcluirE essa abordagem mais real(Mesmo que esteja na moda) fica legal pro Aranha(pelo menos pra se desvincilhar da saga Raimi e criar a própria imagem desse novo aranha).
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ResponderExcluirÉ isso aí, Thiagão. Agora é esperar pelas sequências. Eu sou sempre muito otimista :-DD
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