segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Festival Casa Cor de Cinema: Programação

[ATENÇÃO: PROGRAMAÇÃO ATUALIZADA]

Sábado (24/11) começa o Festival Casa Cor de Cinema. A seleção de filmes incrivelmente caprichada você encontra logo aí abaixo. O festival acontece dentro da programação da Casa Cor, instalada ali no Casino Maranhense, na Beira-Mar. Atenção para o valor das entradas:

Terça a Quinta: R$ 20 inteira | R$10 meia
Sexta e Sábado: R$ 30 inteira | R$ 15 meia
Domingo: R$ 15 preço único

Lembrando que uma entrada garante acesso a todos os filmes que serão exibidos no dia - e a todo o espaço do Casa Cor, claro. Festival lindo, preços ridículos. Anotemos os filmes e vamos lá! :-D

Dia 24 – Sábado


16:15 Crazy Horse (EUA, 2011) – 118 min. – Cine HTCenter
18:30 A Música Segundo Tom Jobim (Brasil, 2012) – Praça Casa Cor
20:15 Cosmópolis (França/Canadá/Portugal/Itália, 2012) – 106 min. – Praça Casa Cor


Dia 25 - Domingo


15:00 O Mundo Dos Pequeninos (Japão, 2011) – Animação - 94 min. – Cine HTCenter
16:30 Saturno Em Oposição (Itália, 2011) – 108 min. – Cine HTCenter
18:20 Sete Dias Com Marilyn (EUA, 2011) – Praça Casa Cor


Dia 28 – Quarta


16:45 A Vida Útil: Um Conto De Cinema (Uruguai, 2010) – 70 min. – Cine HTCenter
18:00  Drive (EUA, 2011) – 110 min. – Praça Casa Cor
20:00 L’Apollonide – Os Amores Da Casa De Tolerância (França, 2011) – 120 min. – Praça Casa Cor


Dia 30 – Sexta 


16:30 Azul Profundo (Grécia, 2011) – 90 min – Cine HTCenter
18:10  Aquí é o meu lugar (EUA, 2011) – Praça Casa Cor
20:00 Beije-Me Outra Vez (Itália, 2011) - 139 min – Praça Casa Cor

Dia 02 – Domingo


15:00 Um Gato em Paris (França, 2011) – Animação - 70 min. – Cine HTCenter
16:10 Que Mais Posso Querer (Itália/Suíça, 2010) – 120 min. – Cine HTCenter
18:10 Heleno (Brasil, 2012) – 100 min. Praça Casa Cor





segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Menino Burton e o Cachorro-Frankenstein



Lá vem ele outra vez com todo o seu arsenal gótico, sua coleção de olheiras macabras, seus vultos e sombras. Alguém ainda tem paciência para o Sr. Timothy William Burton? A resposta é um sonoro e levemente desesperado “SIM! ! !” Mas seja como for, pelo menos os fiéis escudeiros Johnny Depp e Helena Bonham Carter ficaram de fora desse Frankenweenie (Frankenweenie, 2012), onde Burton comprou passagens de volta ao começo da carreira, com a milenar técnica de animação em stopmotion e a história do garoto cientista que ressuscita seu cachorro morto.

Frankenweenie ganha fácil dos dois últimos – e fracotes – lançamentos do pai de Edward Mãos de Tesoura. A despeito do incrível sucesso de bilheteria, Alice e Sombras da Noite fizeram o público ter saudade daquele Demoníaco Barbeiro da Rua Fleet (Depp e Carter gracejando nos três). O trunfo do Cachorro-Frankenstein está basicamente na coleção infinita de referências e citações espalhadas ao longo da trama (quem viu os filmes de Boris Karloff, Peter Lorre, Vincent Price, Bela Lugosi e Christopher Lee: segure os orgasmos) e principalmente por ser uma história que fala do amor muito genuíno de uma criança e seu bicho de estimação.

Como sempre ótimo na criação de tipos que transitam entre a fronteira do sinistro e hilário, Burton entrega um filme criativo, agradável e estranhamente novo, mesmo depois de tantas trevas. Particularmente eu tenho curiosidade de vê-lo trabalhar num projeto ensolarado, moderno e insuportavelmente cheio de alegria, só pra ver como fica.

"It's Alive!"

Ruby Sparks encontra o Jovem Woody Allen



A sombra do primeiro sucesso pode ser esmagadora para um artista. É assim a vida do escritor prodígio Calvin Weir-Fields (Paul Dano), que escreveu um best-seller aos 19 anos e passou a ser tido como um gênio (“Não use essa palavra”, ele repete) desde então. Mas dez anos depois, diante das cobranças para um novo romance, ele só consegue se ver afogado num imenso mar de folhas brancas, sem ideia alguma.

Recorrendo às recomendações de seu analista e aos conselhos predadores do irmão mais velho, o bloqueio criativo de Calvin só é interrompido quando ele sonha com essa garota angelical, de cabelos inacreditavelmente vermelhos, puro mistério. A musa inspiradora é a tal da ‘faísca ruiva’ (daí o título ‘Ruby Sparks’) que faltava pra que um novo livro começasse a ser escrito. O detalhe é que algumas páginas depois, Ruby Sparks (Zoe Kazan, que também assina o roteiro) aparece em carne, osso e roupas de baixo na casa do Calvin, preparando o café da manhã.

Esse é o plot do novo filme da dupla de diretores que nos trouxe ‘Pequena Miss Sunshine’, Jonathan Dayton e Valerie Faris. Mas aqui a namorada ideal não é fruto de uma mente esquizofrênica, como foi o caso do personagem parcialmente maníaco de Selton Mello em ‘A Mulher Invisível’. Ela também não é uma boneca-para-fins-recreativos, como a namorada de Ryan Gosling em ‘A Garota Ideal’. E o principal: ela não é consciente da sua condição de personagem, como o Will Ferrell em ‘Mais Estranho que a Ficção’.

Sendo assim, qualquer alteração que o afortunado Calvin Weir-Fields decida fazer em seu texto, reflete diretamente no comportamento de Ruby. Algo que leva o protagonista a uma desgastante crise de valores éticos. Alterar a personalidade de Ruby é brincar de Deus, ele poderia pensar. Até onde sua namorada deixa de agir espontaneamente pra ser um mero fantoche guiado pelas teclas de uma máquina de escrever?

Tecnicamente cuidadoso, o design de produção investe num interessante contraste dos personagens com o cenário principal do filme, a casa do jovem romancista. Uma versão do Woody Allen com 29 anos, recluso e retraído, sempre usando roupas de tons claros, Calvin quase desaparece pelas paredes brancas da casa super-monocromática. Já Ruby é sempre cor viva (vermelho e roxo, principalmente) remetendo ao caráter vivaz e inspirador da personagem. As participações de Annette Bening e Antonio Banderas como os excêntricos pais do protagonista, também ajudam a engrossar o caldo com bons personagens e situações.

Notei que depois que a primeira complicação é resolvida (entender a natureza de Ruby e se convencer de que “não, eu não estou ficando louco”) o ritmo da narrativa sofre uma leve desacelerada até pegar o embalo outra vez. Mas Ruby Sparks continua sendo uma história romântica, criativa e sem grandes pretensões sobre a matemática incrivelmente complexa dos relacionamentos amorosos, nossa necessidade de ser notado e as diferenças definitivas entre os dois lados da moeda.


Ruby Sparks - A Namorada Perfeita (Ruby Sparks, 2012)

Direção: Jonathan Dayton, Valerie Faris

Elenco: Zoe Kazan, Paul Dano, Chris Messina, Antonio Banderas, Annette Bening, Steve Coogan, Deborah Ann Woll


domingo, 4 de novembro de 2012

Dossiê Vincent Price

Primeiros Anos

Um porte longilíneo e aristocrático, os cabelos rigorosamente emplastrados, trajes de corte fino, o olhar imponente e, acima de tudo, uma voz cortante, poderosa. Essas são características que inevitavelmente guiariam o então jovem ator Vincent Price pelos caminhos dos filmes de horror, pelos quais ele se tornaria reverenciado anos depois. 

Ter nascido no mesmo dia de Christopher Lee (27 de maio de 1911), outra lenda dos horror movies, parece predestinação agourenta. Mas do começo de carreira no teatro, em espetáculos da Broadway, foi um curto caminho até que Price carimbasse o passaporte para Hollywood, a princípio estrelando papeis dramáticos, notadamente secundários. Um dos personagens mais marcantes dessa primeira fase foi em “Laura” (1940), um clássico do cinema noir dirigido por Otto Preminger. Price é um dos suspeitos pelo assassinato da linda moça do título, interpretada por Gene Tierney. Os dois voltariam a se encontrar em outro filme marcante do período, “Amar Foi Minha Ruína” (1945), um dos primeiros em technicolor. Price vive o marido que é inescrupulosamente trocado pelo novo interesse romântico da protagonista.


Construindo a Persona



No ano seguinte, “Choque” (1946) traz Vincent Price como o maquiavélico psiquiatra Richard Cross, assassino da própria esposa, que transforma lentamente em um inferno a vida da única testemunha do crime. E aqui um traço interessante da persona de Price, ainda em construção: a postura ambígua, insuspeita, propicia a ele a possibilidade de enganar a seus pares na trama e a nós, na plateia.

Depois de trilhar pelos estúdios da Universal e Fox, Vincent Price estrela, pela Warner, este que talvez seja seu primeiro grande sucesso na esteira dos filmes de horror: “Museu de Cera” (1953). Ele interpreta Henry Jarrod, um escultor que cria impressionantes imagens realistas de personalidades históricas para o museu do título. O afinco com que Jarrod produz suas obras é tamanho, que ele as trata como pessoas reais, com alma e personalidade. O problema começa quando seu sócio decide incendiar o museu a fim de ficar com o dinheiro da hipoteca. Jarrod, na tentativa de salvar suas criações, fica preso no salão, carbonizado junto a seus amigos de cera.  Depois da carga dramática gigantesca de prólogo, o escultor regressa, como uma figura bestial, em busca de vingança.

E aqui nós temos outro elemento importante para a composição da Lenda Vincent Price: o personagem injustiçado por fatores incrivelmente aleatórios regressa com um plano de vingança maléfico de assassinato em massa, ou coisa que o valha. Esse plot ainda seria usado inúmeras vezes em outros personagens do ator.
Em 1958, “A Mosca da Cabeça Branca” confere um enorme sucesso à Fox e se torna outro marco interessante na carreira de Vincent Price - apesar de ser um personagem coadjuvante. A história do cientista que desenvolve uma máquina de teletransporte, cujas experiências resultam numa criatura horrenda. Um filme de ficção científica em narrativa inversa, intercruzando o estilo noir.


Porta de entrada para Terror B



No ano seguinte, “A Casa dos Maus Espíritos” (1959) celebra a entrada definitiva de Price no universo dos chamados ‘Filmes B’, aqui desmembrado em ‘Terror B’. Essa designação caracteriza uma alternativa adotada pelos estúdios de produzir filmes com menor orçamento e sem grandes estrelas no elenco. Utilizando sobras de cenário e figurino de outras produções e soluções engenhosas de filmagem, os ‘Filmes B’ eram exibidos após os lançamentos principais, nas populares sessões duplas que começam na década de 1950. Os estúdios buscavam com isso reconquistar um público cada vez mais seduzido pela novidade da Televisão.

Nos filmes de Terror B, os relevos de influência Expressionista entram em conflito com o viés discretamente cômico, muito característico desse subgênero. Além da camada estética frequentemente sobrepujando aspectos psicológicos: caveiras animadas precariamente, aparições e vultos conferem ao filme uma identidade farsesca, quase de fábula. “A Casa dos Maus Espíritos” traz a figura de Price como o milionário excêntrico que decide desafiar pessoas anônimas a passarem uma noite nessa mansão escabrosa, a troco de receber 10 mil dólares como prêmio. Dirigido por William Castle, um dos nomes mais importantes do Terror B. A partir da repercussão positiva, muitos outros filmes foram sendo produzidos, seguindo os mesmos padrões e em intervalos bem curtos, em tempo record de produção.



O Poço e o Pêndulo” (1961) assim como "Muralhas do Pavor", “O Castelo Assombrado” (1963) e “O Corvo” (1963) são bons exemplos. Pertencem a uma série de filmes estrelados por Price e dirigidos por Roger Corman, com base em contos macabros de Edgar Allan Poe. A ambientação no séc. XVI, frias paredes de castelos cheias de histórias, figurinos pomposos, quadros assustadores, o tema da reencarnação e maldições familiares. São incontáveis os elementos que ajudam a construir uma iconografia muito bem definida na tríade Poe-Corman-Price. É uma bela safra.

  
O Cientista Excêntrico




Em “No Domínio do Terror” (1962) outro aspecto definitivo da Filmografia Price é estabelecido: a figura do cientista possuído pela ambição de seus estudos, geralmente com motivações românticas. Aqui são apresentadas três histórias sem conexão entre si. Na primeira, velhos amigos descobrem uma curiosa fórmula da juventude e tentam, depois de rejuvenescer coisa de 50 anos, ressuscitar a falecida esposa de um deles. Na segunda história, "A Filha de Rappaccini", remotamente baseada no conto de Rapunzel, um cientista mantém a filha sob uma espécie de antídoto que a impede de se relacionar com outras pessoas - até que ela se apaixona.

A figura do cientista emocionalmente desequilibrado voltaria mais tarde em “O Abominável Dr. Phibes” (1971), um dos personagens mais populares de Vincent Price. Depois de perder a esposa num procedimento cirúrgico mal sucedido, Dr. Phibes elabora um plano de vingança macabro baseado em pragas do Antigo Testamento. Um a um os médicos envolvidos vão sendo assassinados com requintes de crueldade. Dr. Phibes volta em  "A Câmara de Horrores do Dr. Phibes" (1972).

A fórmula vingancista é repetida em “As Sete Máscaras da Morte” (1973), com trama e personagens claramente similares aos de Dr. Phibes, realocados. Um ator frustrado decide executar os críticos teatrais que o execraram – aqui os assassinatos são minuciosamente baseados em peças de Shakespeare.


O Mestre do Horror



Fora das telas, Price era um apreciador e colecionador de obras de arte, tendo se formado em História da Arte em Yale. Ele também foi um gourmet inveterado, inclusive tendo se dedicado à culinária, co-escrevendo livros de receitas e participando de programas de televisão – é até engraçado imaginar Dr. Phibes ensinando a fazer enroladinhos de camarão.

Contemporâneo de mestres como Bela Lugosi, Boris Karloff, Peter Cushing e Peter Lorre, além do já citado Christopher Lee, a longa filmografia de Vincent Price, que se estende ao longo de quase cinco décadas, o estabelece solidamente no Olimpo do Horror cinematográfico. No entanto, seu legado não se limita ao cinema, já que sua voz inconfundível está cravada num dos clipes musicais mais famosos de todos os tempos: é dele a narração cavernosa e a gargalhada fatal em ‘Thriller’, de Michael Jackson. Sua última participação no cinema foi em “Edward Mãos de Tesoura”, de Tim Burton – um dos muitos discípulos do Mestre do Horror.