Separei uma tarde inteira pra ver a primeira temporada de Wilfred, serie de TV que vai ao ar às quintas-feiras pela FX. O pilot começa com Ryan Newman (Elijah Wood) um típico loser revisando cautelosamente sua carta de despedida, enquanto organiza os últimos detalhes para seu suicídio. Como se não bastasse a vida amorosa em frangalhos e a carreira profissional fracassada, a tentativa de suicídio dá em nada. É nesse momento periclitante da vida, que surgem a vizinha Jenna (Fiona Gubelmann) e seu cachorro, o Wilfred.
Quem já teve ou tem um cachorro sabe o quanto essas criaturas podem ser companheiras. E é mais ou menos essa a premissa da série: escancarar as proporções do velho provérbio que diz ser o cão o melhor amigo do homem. Ryan, num estado de extrema vulnerabilidade, enxerga Wilfred não como um cachorro comum, mas como um amigo que chegou na hora certa. Voilá: um cara vestindo uma fantasia de cachorro.
O princípio é basicamente aquele que rege o relacionamento entre Calvin e Haroldo, dos quadrinhos. Para todos os outros mortais, Haroldo não passa de um tigre de pelúcia qualquer. Mas para Calvin, o Haroldo é muito mais real que qualquer amigo de carne e osso.
Lembrei que o cinema também já explorou relacionamentos esquizofrênico-imaginativos dessa natureza. Recentemente, em Um Novo Despertar (The Beaver, 2011), Mel Gibson interpretou Walter Black, um sujeito em condições muito parecidas com as de Ryan. Incapaz de manejar a própria vida, ele se vê numa crise de depressão quase irreversível, até encontrar esse fantoche de Castor, que passa a representar toda a sua vitalidade, como uma vida à parte na mão esquerda de Black.
James Stewart também esteve em situação parecida no filme Meu Amigo Harvey (Harvey, 1950). Dando vida a Elwood P. Dowl, uma figura extremamente carismática, cujo melhor amigo, um coelho de dois metros (que só ele conseguia enxergar), o acompanhava pelos bares da cidade em animadas bebericagens – para completo desespero dos familiares que, com toda a razão, passam a desconfiar de sua sanidade.
Em todos os casos, é claro, os ‘animais de imaginação’ podem ser lidos como reflexos da própria personalidade de seus donos. No caso específico de Wilfred somam-se alguns pontos, já que a série quase nunca se preocupa em explicar a natureza da relação dos dois ou em justificar, por exemplo, como Wilfred é capaz de fazer telefonemas ou acessar a internet. Investindo ainda na comicidade do personagem que, sendo cachorro, não resiste a arremessos de bolas, bolhas de sabão e outras particularidades caninas, como o fato de não enxergarem as cores e terem faro e audição aguçados.
Nesse bromance mais-que-peculiar, a personalidade dos dois se complementa perfeitamente, como vai ficando claro ao longo dos episódios. É esperar para que as temporadas seguintes consigam manter a medida afinada do humor, sem perder o pedigree.
“qualquer cachorro diria a mesma coisa nessa situação”
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Turma, fiquei impossibilitado de postar no último mês e meio, mas agora já está tudo bem de novo. Espero que a gente possa continuar discutindo cinema de forma descontraída ao longo de mais e mais listas e textos.
Grande Abraço,
Dave Coelho.
Dave Coelho.
Oi, Davi.
ResponderExcluirQue bom que voltou a escrever e tal.
Fiquei curioso bastante pra assistir essa relação estranha do cachorro, parece ser engraçado e eu também tenho um cachorro. Acredito que ele também me serve nessas horas, e quase posso escutar ele falar, só pelas olhadas que ele me dá.
Enfim, você também poderia postar um link de onde encontro o filme, ou a série do post em questão. Ajudaria muito a não apenas conhecer melhor, mas ter a chance de poder ver realmente do que você tá falando.
~~stay the tip~~
(fik dik em inglês)
1BJ.
Peguei amor pela série Wilfred, acho hilária a inversão de papéis onde o cão "domestica" o humano. É engraçado também como o cãozinho pode ser ao mesmo tempo tão fofinho e escroto, rsrs, alé delLembrar do video do Bon Jovi, "Who says you can't go home" em q um ator vestido de cachorro tenta voltar pra casa. =)
ResponderExcluir(E pro amigo aqui de cima, os episódios estão todos no Torrent, facinho.)
texto muito bom ! parabéns, adorei
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