Conversando com o amigo Gabriel Leite em meados de 2010, ainda atônitos com o sucesso de Toy Story 3, chegamos à conclusão de que depois de tantos êxitos em série, a Pixar bem que podia se dar ao luxo de cometer falhas dali em diante. A brincadeira ganhou tons de profecia, já que ‘Carros 2' (Cars 2, 2011) cruelmente rejeita a teoria da infalibilidade do estúdio de John Lasseter.
A pegada da Pixar sempre foi atribuir características humanas a personagens dos ambientes mais adversos e, através disso, provocar elos de identificação com a platéia, transmitindo lições de altruísmo e camaradagem. Em 2006, quando decidiram criar um universo paralelo dominado não por monstros, formigas, peixes ou brinquedos, mas por carros (!) a crítica especializada se dividiu. Seria um desafio conferir expressividade a máquinas, personagens não-orgânicos, pouco maleáveis, que traziam em vez de mãos, rodas de liga leve e em vez de olhos, para-brisas.
Os resultados não foram de todo satisfatórios. O Oscar daquele ano, por exemplo, foi para os pinguins de ‘Happy Feet’ e até o curta-metragem ‘Quase Abduzido’, ficou de fora da premiação. A despeito disso, ‘Carros’ se transformou no projeto mais comercial da Pixar, ao dar possibilidade à criação de uma infindável linha de produtos com os colecionáveis Relâmpago McQueen e Mate.
Este descrédito é o principal motivo pelo qual o projeto de ‘Carros 2’ foi visto com desconfiança. A premissa do filme de 2006, feita com base na ideia que John Lasseter teve numa viagem de carro com a família, era a de um carro de corrida cego pela fama, que em determinada circunstância se vê forçado a reavaliar alguns conceitos.
Mate, o carro-guincho caipira, coadjuvante no primeiro filme, foi aqui alçado à condição de protagonista, enquanto a estrela das corridas Relâmpago McQueen, assumiu o posto de coadjuvante. Essa troca define uma brusca mudança de tom na narrativa: as então genuínas crises pessoais de McQueen, antes intercaladas pelo alívio cômico do carro-guincho, agora ficam de fundo para as trapalhadas-pastelão de Mate – que aqui não soam mais tão espontâneas e engraçadas.
O problema é que nem se trata de uma mera animação engraçadona. O pano de fundo disso é uma aparentemente intrincada trama de espionagem ao melhor estilo James Bond. O carro novato, Flynn McMíssil é nada menos que a carronificação (!) do agente 007. Assim, enquanto McQueen se mete num desafio internacional de corrida, Mate é confundido com um espião profissional – algo tão improvável quanto Mr. Bean sendo agente secreto.
Então apesar do impecável design de produção – especialmente nas ‘locações’ internacionais, cujos cenários foram redesenhados para atender à lógica desse universo automobilístico – e da criatividade nos modelos de carros antropomorfizados, a trama soa boba como uma desculpa esfarrapada de continuação. A Pixar, com seu rigor técnico e narrativo, nos tornou exigentes demais.
É a única animação da pixar que não me interessa.
ResponderExcluirPelos padrões Pixar, o primeiro já é bem ruinzinho, mas dá pra ver. O segundo é triste. Uma pena essa de vender carrinhos ao invés de fazer um bom filme, a indústria tem que lucrar...
ResponderExcluirNessas horas lembro das reclamações por conta das modificações na Princesinha de Brave, ora, os bonecos tem que vender :P