segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra



Graças à fotografia que chama atenção logo nos primeiros quadros e à trilha sonora de compassos bem marcados, a primeira parte de Cavalo de Guerra remete àqueles filmes super antigos, fotografados em Technicolor. Um amigo que via o filme comigo, comentou ‘tem um clima meio ...E o Vento Levou’. E tem mesmo. Mas eu lembrei também de Lassie, de 1943, daquele Virtude Selvagem de 1946 e de A Canção do Sul, também de 1946 - que além de em maior ou menor escala, explorarem a honestidade das relações entre bichos e homens, também são caracterizados por esta trilha sonora mais incisiva.


O filme do Spielberg talvez pese a mão no drama, dando cartaz àqueles sempre mordazes críticos de sua obra, que o acusam de exagerar nas sentimentalidades. Observe a cena em que Albert (Jeremy Irvine, estreante) rasga o condado de Devon, Grã-Bretanha, na mais desenfreada carreira, para descobrir que Joey está sendo vendido ao exército por mirrados 30 dinheiros. O garoto então abraça o cavalo, o rosto desfigurado em lágrimas, e sussurra algo como ‘A gente vai ficar junto de novo...’. Ao observar o chororô, um oficial assevera: ‘Isto é um cavalo, não um cachorro’ e leva Joey embora, aos puxavões.


A despeito disso, o cenário de Cavalo de Guerra é caro ao diretor. Afinal de contas, quando o assunto é guerra, Spielberg é sem barreiras. Lembrar da produção Band of Brothers e dos arrebatadores O Resgate do Soldado Ryan e A Lista de Schindler, responsáveis pelas mais importantes premiações do cineasta. E é graças ao cenário, a melhor sequência do filme, onde o cavalo, depois de dar provas de sua bravura, percorre as trincheiras em galope, as bombas estourando incessantemente ao redor, até ficar imobilizado no emaranhado de arame farpado, exatamente entre os fronts dos alemães e dos ingleses. Em solidariedade ao animal ferido, um soldado alemão e outro inglês se unem a fim de libertar o bicho.

O papo entre os dois inimigos é fantástico já que prova, ainda que em tom de metáfora, o quão inconsciente e absurda é a lógica da guerra, com seus jovens combatentes, cheios de sonhos e esperanças, sem entender com clareza o porquê de toda aquela barbárie. 


O que diferencia Cavalo de Guerra das fabulescas obras em technicolor citadas no começo do texto, é que Joey, o potro, não faz aqueles gracejos de bicho-treinado-em-filme-de-sessão-da-tarde. Ele não dá risada, não joga basquete, não sapateia. É um cavalo. O que o torna especial é unicamente a bravura e a lealdade absoluta a seu dono. Mesmo que a guerra os tenha divido. O final é uma tela saturada pelo laranja do sol, dando provas de que o Spielberg que faz a platéia sacar os lencinhos, permanece inabalável.


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