Com uma filmografia de êxitos absolutos, a Pixar já se consagrou como um dos estúdios mais dedicados e criativos do cinema atual. A equipe de John Lasseter mal consegue empilhar as 12 estatuetas do Oscar, que recebeu desde 2002, quando o prêmio de Melhor Animação foi criado. Por conta disso, carrega nas costas a imensa responsabilidade de fazer o que parece impossível: se superar a cada lançamento.
O legado da Pixar se estende não apenas pelo pioneirismo em 1995, com o legendário lançamento de Toy Story (a primeira animação criada completamente em computador), mas por fazer subir o nível das produções de animação a cada ano. No Oscar de 2009, por exemplo, os 5 nomeados foram de extrema qualidade e ainda ficou de fora, lamentavelmente, o excelente Mary & Max, de Adam Elliot, feito em stopmotion.
Toy Story 3, por tanto, arrasta consigo a pesada carga de ser a novidade do estúdio que ‘nunca erra’ e de encerrar a franquia que apresentou a Pixar ao grande público, há 15 anos. Pois bem, temos um novo marco. Vai vendo.
Dessa vez, o cowboy Woody, Buzz Lightyear e os outros brinquedos, despontam renegados em um velho baú, por seu dono Andy - que agora já é um mocinho e está aprontando as malas para a faculdade. Aqui, se nos sensibilizamos com a situação de abandono da trupe de Woody, nos identificamos também com Andy, prestes a se tornar adulto e abraçar as responsabilidades que fazem da nossa infância um passado cada vez mais distante.
Entre virar lixo, tralha no sótão ou ser doados para uma creche, a última opção é a que acaba acontecendo. É muito tocante o apego que eles têm ao dono original (e também alguma mágoa), mas em Sunnyside, os brinquedos de Andy se deparam com uma realidade encantadora, uma vez que serão novamente foco de crianças, cumprindo sua função de brinquedos: entreter, brincar!. Eles não têm ideia do que está escondido por trás da aparente calmaria do lugar.
Prefiro não entregar detalhes sobre a trama, mas devo compartilhar a minha enorme surpresa com a inventividade da história, com o uso dos novos personagens, com a forma como souberam aplicar referências aos filmes anteriores, sem que isso soasse mera reciclagem de ideias. Naquele universo, tudo é completamente verossímil e bem justificado. Todos os pontos atendem a encaixes perfeitos e nada acontece em vão - o que é um mérito imensurável num filme com um arco dramático tão poderoso, com tantos personagens e tantas reviravoltas.
Se é um filme de animação perfeito para as novas gerações, por ser muito ágil, coloridaço, hilário e sensível? Ah, é sim. Mas devo dizer que há um prazer extra pra quem de certa maneira ‘cresceu junto com Andy’: o desfecho de ‘Toy Story 3’ é uma catarse. Foi impossível segurar as lágrimas. Sim, eles fizeram outra vez.